quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Saber voar quando não existe mais chão

Maurício acordou pontualmente às 08h30 da manhã, atordoado, foi até a cozinha. Viu que a Adriana não estava mais naquela cozinha. Não estava mais naquela casa. Não estava mais na vida de Maurício há seis meses. O Maurício ficou sentado na cadeira que um dia foi da Adriana. Olhava para xícara e com o mesmo sabor amargo daquele café, sentia-se a mesma amargura de todos os dias. E então decidiu ligar para Adriana.
A casa era imensa. Maurício e os seus pensamentos se perdiam naquela imensidão.
Ela não quer me atender. Concluiu após tentar três vezes seguidas. Se arrependeu em tentar. Tinha os seus motivos.
Após aquela briga imperdoável, a Adriana voltou para a casa de seus pais. Ela também estava distante e atordoada. Orgulhosos do jeito que sempre foram nunca mais se falaram.
Naquela mesma manhã, Adriana decidiu dormir até mais tarde, por isso que ela não atendeu nenhuma das ligações de Maurício.
Acho que o relógio já apontava às 10h da manhã. Adriana detestava em acordar e não encontrar o seu amor deitado ao lado esquerdo da cama. Não sentia mais o seu cheiro. Não ouvia mais os seus suspiros. E os sorrisos já se foram. Ela não confessava, mas qualquer um podia ver que ela sentia a falta dele. Todos os dias.
Drica, - como era chamada por Maurício -, passou dez minutos procurando o seu celular. Ela não tinha uma boa memória.
Ele me ligou três vezes? Como eu não escutei o celular tocando? Simples: estava no modo silencioso. Drica foi até a janela de seu quarto. Deixou o tempo passar até ter uma resposta. Na expectativa do celular tocar mais uma vez, ele não tocou. Ele não ligou pra ela. Nunca mais.

Os anos se passaram e o Maurício se casou. Parece que hoje está feliz. Aprendeu a colocar a quantidade certa de açúcar no café matinal.
Adriana não se casou, mas foi morar em Nova Iorque. A tão esperada chance de trabalhar em outro país surgiu quando concluiu a sua faculdade de Comunicação Social.
Eles aprenderam a conviver sem ter um ao lado do outro. Aprenderam a dizer adeus sem saber se poderiam ter dito. Conviveram tão pouco. A briga foi tão boba. Foi tudo tão rápido, tão intenso. Mas foi melhor assim, acredite!
Não foi nada fácil. Sentiram saudades um do outro por muito tempo, mas precisavam acordar para a vida nem que fosse pontualmente ou até um pouco mais tarde.
Não é fácil lidar com o fim, mas foi necessário.
Hoje os dois estão bem. Distantes, mas estão bem.