domingo, 26 de julho de 2015

Três da madrugada

Percebi o silêncio que rondava a simples sala de estar com aqueles poucos velhos móveis que pertenciam ao meu apartamento. Me vi amarrotada com a camisola lilás que você me presenteou no meu aniversário de vinte e cinco anos. Amarrotada por ter dormido naquele sofá que você achava aconchegante. Muitas noites ali com você.

Mas não me consumi a isso.

Me levantei. E em seguida, destrambelhada como sempre fui, tropecei nos chinelos que você deixara pela casa. A minha casa.

Eram três da madrugada. Droga! Certamente, eu iria me atrasar para ir trabalhar no dia seguinte - pensei. Mas, por um instante, ignorei todos os fatos que iriam me levar às consequências na breve quinta-feira que viria a amanhecer.

Abri o armário, peguei um copo daquele conjunto ridículo que eu ganhei da vizinha do 205. Me saciei com a água que percorria minha garganta, matando a sede sem fim.
A sala e a cozinha estavam às escuras. Ou melhor, quase às escuras. Percebi que a luz do quarto de casal estava acesa e permitia que a claridade iluminasse os demais cômodos.

Quem foi que esqueceu a luz acesa? Ok, já sabemos a resposta.

Você foi embora. De novo. E esqueceu de apagar a luz do nosso quarto. De n...
Pela primeira vez, não me importei com a sua breve eterna ausência. Você sempre ia. E voltava. E me tratava como a mulher da sua vida, mesmo eu não me considerando a sua mulher de todos os dias.

Não sei nada de você. Nunca soube. E não sei se saberei algum dia. E se eu souber, vou fingir que não sei quem é você. Totalmente.
A minha maturidade não estragará o sentimento em forma de paixão que sinto por você. E pelos cinco anos temos juntos. Ou tivemos.

Voltei para o velho sofá. O nosso melhor lugar. E dali, prometia a mim mesma que as juras de amor que eu já fizera a você, seriam guardadas por mim e aguardadas por ti. Talvez, em breve.
Mas longe de mim cair no conto de fazer planos. Não dessa vez. Não por você...

Mas, por nós.