quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Serei o seu vício

Cansei de traçar os passos tortos que eu dava naquela calçada recheada de passos atravessados, e então decidi entrar naquele bar de gente estranha.
Sentei-me em uma das primeiras mesas vagas de solidão. Um garçom, carismático graças a sua profissão exigente de bons costumes, veio até à mesa dobrar-se às minhas vontades. Sem muitas delongas, apenas pedi uma cerveja.

Enquanto os ruídos de brindes e gargalhadas espalhadas num ambiente extrovertido se sobressaíam, reparei em você sentada logo a mesa em frente da minha.
Juro àqueles que são mais tímidos do que eu: tentei disfarçar, mas vi que você atravessou o teu olhar com o meu. Pensei: "És bonita demais para olhar prum cara solitário como eu."
Você estava acompanhada com um riso solto e se esquivava da sombra que rondava o teu copo de cerveja. E eu ainda te observava dali, sentado e angustiado em saber que tu já estavas acompanhada.

A minha cerveja chegou. Trincando a garganta como se saciasse toda a sede de um solitário na multidão. E você ali, jovem e bela, apenas ali, sem muito o que dizer àqueles que estavam ao seu redor.

Levantei-me com um estalo na ânsia de tragar um cigarro. Fui até a porta do bar e sem olhar para atrás, peguei o maço de cigarros que estava no bolso direito da minha calça jeans. O isqueiro acendeu a chama de uma noite que se iniciara. Guardei os meus vícios. Sem dar um passo a mais, apenas me direcionei da porta do bar à sua mesa. Trocamos olhares. E percebi um olhar desconfiado vindo de você ao perceber que a fumaça tóxica percorria os meus pulmões.
Tentei ignorar o fato de saber que já comecei errado a única chance de roubar a sua atenção.

Alguns longos e arrependidos minutos depois, apaguei o cigarro como se ele fosse o culpado da sentença que viria em seguida. Tentei controlar os passos de voltar ao bar e retornei ao meu lugar.
Nunca fui muito bom em cálculos, mas ainda acho que você já estava na terceira rodada de cerveja. Uma alegria abafada te cobria por ali.
Já a minha primeira e única cerveja daquela noite se acabara como uma despedida daquele bar e daqueles teus olhares.

Sem volta, me direcionei até ao caixa do bar. Com alguns trocados, paguei a conta. E não troquei negociações com o simpático garçom para que ele descobrisse qual seria o seu nome ou se eu poderia te acompanhar em qualquer lugar, desde que fosse só para te olhar por alguns instantes.
E pela primeira vez, agradeci à minha falta de coragem por este feito. Pois ainda acredito, que em algum lugar, continuaremos a trocar olhares sóbrios ou despercebidos, para que eu tenha a (única) chance de ser o seu vício longe de um bar descontraído.