sexta-feira, 22 de abril de 2016

Pra poder te gravar em mim

Eu queria deixar tudo pronto. Eu queria deixar do jeito que você gosta – ou do jeito que gostaria que fosse.

Mesa posta.

Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que aquele dia pudesse acontecer.

Enquanto eu lavava a louça, meu riso corria fácil ao me recordar de quando a tia Rose dizia que eu não tinha jeito para cozinha, e olha só quem fez o almoço especial à sua espera.

Toca o telefone.

Eu nunca acreditei quando a tia Rose dizia com certa ironia esboçada em suas palavras que eu era desastrada – até eu tropeçar na banqueta quando me dirigi à estante de madeira marfim.

Era você.

Após o telefonema, tentei disfarçar todo aquele meu jeito desastrado quando decidi prender os meus cabelos com a caneta. Queria estar bonita para te receber – mesmo vestida com aquela camiseta-pijama e uma bermuda jeans escura.

Na pressa, bati a porta do apartamento, e nem me toquei na Dona Reclamona do 405 que fez cara feia quando ouviu o estrondo.

Dane-se. Eu estava feliz.

A caminhada até o metrô me fez ensaiar todas as palavras que eu queria dizer a você.

Reencontrei-te. Nos reencontramos.

O abraço.

Um abraço apertado.

E voltamos. Para o apartamento.

Eu não sei se eu deveria acreditar em seus elogios sobre o almoço que eu fizera naquela tarde. Eu mal conseguia acreditar que você estava ali. Só pra mim.

Enquanto você fazia o bom moço ao arrumar a cozinha para mim, eu me distraía no seu jeito doce e misterioso.

Brincamos. Rimos. E nos beijamos.

Universo nosso. Único. Nós dois e mais ninguém.

Teu riso foi se perdendo quando reparou que precisava partir. Como das outras vezes.

“Tudo bem” – eu respondi. Mas não estava.

Queria demonstrar pra você que eu ficaria bem mesmo com a sua partida, então eu decidi não me despedir.

Você se foi. E eu fiquei. Outra vez.

Mas quando tranquei a porta logo que você saiu, decidi não me entristecer.

Afinal, você voltaria.

Como das outras vezes.



Do you remember?