Eu queria deixar tudo pronto. Eu queria deixar do jeito que
você gosta – ou do jeito que gostaria que fosse.
Mesa posta.
Nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que aquele
dia pudesse acontecer.
Enquanto eu lavava a louça, meu riso corria fácil ao me
recordar de quando a tia Rose dizia que eu não tinha jeito para cozinha, e olha
só quem fez o almoço especial à sua espera.
Toca o telefone.
Eu nunca acreditei quando a tia Rose dizia com certa ironia
esboçada em suas palavras que eu era desastrada – até eu tropeçar na banqueta quando
me dirigi à estante de madeira marfim.
Era você.
Após o telefonema, tentei disfarçar todo aquele meu jeito
desastrado quando decidi prender os meus cabelos com a caneta. Queria estar
bonita para te receber – mesmo vestida com aquela camiseta-pijama e uma bermuda
jeans escura.
Na pressa, bati a porta do apartamento, e nem me toquei na
Dona Reclamona do 405 que fez cara feia quando ouviu o estrondo.
Dane-se. Eu estava feliz.
A caminhada até o metrô me fez ensaiar todas as palavras que
eu queria dizer a você.
Reencontrei-te. Nos reencontramos.
O abraço.
Um abraço apertado.
E voltamos. Para o apartamento.
Eu não sei se eu deveria acreditar em seus elogios sobre o
almoço que eu fizera naquela tarde. Eu mal conseguia acreditar que você estava
ali. Só pra mim.
Enquanto você fazia o bom moço ao arrumar a cozinha para mim,
eu me distraía no seu jeito doce e misterioso.
Brincamos. Rimos. E nos beijamos.
Universo nosso. Único. Nós dois e mais ninguém.
Teu riso foi se perdendo quando reparou que precisava
partir. Como das outras vezes.
“Tudo bem” – eu respondi. Mas não estava.
Queria demonstrar pra você que eu ficaria bem mesmo com a
sua partida, então eu decidi não me despedir.
Você se foi. E eu fiquei. Outra vez.
Mas quando tranquei a porta logo que você saiu, decidi não me
entristecer.
Afinal, você voltaria.
Como das outras vezes.
Do you remember?