quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Serei o seu vício

Cansei de traçar os passos tortos que eu dava naquela calçada recheada de passos atravessados, e então decidi entrar naquele bar de gente estranha.
Sentei-me em uma das primeiras mesas vagas de solidão. Um garçom, carismático graças a sua profissão exigente de bons costumes, veio até à mesa dobrar-se às minhas vontades. Sem muitas delongas, apenas pedi uma cerveja.

Enquanto os ruídos de brindes e gargalhadas espalhadas num ambiente extrovertido se sobressaíam, reparei em você sentada logo a mesa em frente da minha.
Juro àqueles que são mais tímidos do que eu: tentei disfarçar, mas vi que você atravessou o teu olhar com o meu. Pensei: "És bonita demais para olhar prum cara solitário como eu."
Você estava acompanhada com um riso solto e se esquivava da sombra que rondava o teu copo de cerveja. E eu ainda te observava dali, sentado e angustiado em saber que tu já estavas acompanhada.

A minha cerveja chegou. Trincando a garganta como se saciasse toda a sede de um solitário na multidão. E você ali, jovem e bela, apenas ali, sem muito o que dizer àqueles que estavam ao seu redor.

Levantei-me com um estalo na ânsia de tragar um cigarro. Fui até a porta do bar e sem olhar para atrás, peguei o maço de cigarros que estava no bolso direito da minha calça jeans. O isqueiro acendeu a chama de uma noite que se iniciara. Guardei os meus vícios. Sem dar um passo a mais, apenas me direcionei da porta do bar à sua mesa. Trocamos olhares. E percebi um olhar desconfiado vindo de você ao perceber que a fumaça tóxica percorria os meus pulmões.
Tentei ignorar o fato de saber que já comecei errado a única chance de roubar a sua atenção.

Alguns longos e arrependidos minutos depois, apaguei o cigarro como se ele fosse o culpado da sentença que viria em seguida. Tentei controlar os passos de voltar ao bar e retornei ao meu lugar.
Nunca fui muito bom em cálculos, mas ainda acho que você já estava na terceira rodada de cerveja. Uma alegria abafada te cobria por ali.
Já a minha primeira e única cerveja daquela noite se acabara como uma despedida daquele bar e daqueles teus olhares.

Sem volta, me direcionei até ao caixa do bar. Com alguns trocados, paguei a conta. E não troquei negociações com o simpático garçom para que ele descobrisse qual seria o seu nome ou se eu poderia te acompanhar em qualquer lugar, desde que fosse só para te olhar por alguns instantes.
E pela primeira vez, agradeci à minha falta de coragem por este feito. Pois ainda acredito, que em algum lugar, continuaremos a trocar olhares sóbrios ou despercebidos, para que eu tenha a (única) chance de ser o seu vício longe de um bar descontraído. 

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Como se fosse um efeito dominó...

Dessa vez eu acordei com a expectativa que os meus 29 anos de vida não fossem regados de saudades de você. Mas foi impossível, Ruan. É incontrolável.
E eu sei que a culpa não é sua. Não tenho o direito de te culpar, afinal, quem saiu daquela sala de estar pela última vez, fui eu. Eu: a culpada.

Tento buscar refúgios de um passado que nos pertenceu, buscando-me no fundo desta bebida alcoólica as respostas das minhas incertezas.
Não sei por onde você anda e muito menos quem é você realmente. Parece que você aprendeu algo comigo: sair sem se despedir.
E tento também, com a minha rotina insuportável, enfrentar e disfarçar o que eu escondo num olhar tenebroso. 

Sinto-me incapaz de reagir com essa minha tristeza abafada, Ruan. As minhas súplicas nos fins de noite são ensurdecedoras. Engano-me como se fosse fácil, mas não é.
Crio personagens como se fossem salvações desta ser que teme em voltar a te procurar.

Mudo-me de cidade.
Mudo-me de emprego.
Mas não consigo deixar as bagagens que você deixou dentro de mim.
Parece um karma que me persegue.
Parece que você ainda está aqui. E não está.

Não choro, por que não sei chorar com essa mera facilidade que os sentimentos indesejáveis nos fazem transbordar, mas quando eu te tiro de um plural que já foi nosso, machuca.

Já busquei outros homens, outras transas, outros amores, outros cheiros.
Não sou uma mulher robótica. Permitia-me sentir prazer com as sintonias que me rondavam num tempo que substituía os pensamentos em noitadas duradoras.
Mas, você... Ah, você!

Não sei quando a minha vida voltará a ser uma fábula. Não espero por ti esta dádiva.
Mas, ainda espero que o dia de hoje não me dobre como um dia crucial.

E mesmo sem você.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Respeitável público...

Resgatei a minha infância em algumas lágrimas derramadas durante um depoimento que eu mesma concedia num ambiente contagiante.
Deparei-me que ainda há sentimentos empurrados dentro desta ser que, por bem ou por mal, não repara em si própria. Que vê um turbilhão de defeitos dentro de si, e acha, que por algum motivo, não sairão pelos poros.

Sim, chorei ao relatar uma experiência que eu tenho guardada há muitos anos: o sabor da infância revivida num lugar tão simples e cheio de histórias.
Ah, as cores, os risos soltos, a alegria imensurável e aquele brilho nos olhos voltaram após quatorze anos.

Ás vezes paro e me pergunto se ainda dá tempo de sorrir sem nenhum pretexto... Entende?

Quando eu era criança, ficava contanto nos dedos das mãos quantos anos demorariam para eu alcançar a maior idade. A alcancei. E não anseio mais por isso.

Mas que bom que ainda há pessoas que nos fazem sair desta zona de conforto. Motivo das lágrimas daquele depoimento.

Tantas e mais tantas recordações que eu posso lhe descrever a cada detalhe quando eu vi aqueles personagens caracterizados pela primeira vez, ainda criança.
Ainda lembro o trajeto e quem estava ao meu lado. E por agora: não está mais tanto assim.
Que sorte a minha ter estas recordações guardadas como se fossem tesouros preciosos. E são. Acredite!

Espero ter a sorte de nunca esquecer destas recordações, mesmo que a menina tenha crescido e se deparado com um mundo que lhe espera lá fora sob luzes artificiais.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

O caminho do anoitecer

Nunca imaginei que eu teria uma vida tão agitada no auge dos meus vinte anos.

Cinco horas da tarde: fim de expediente. E a única ânsia que eu prevejo é a minha ida até a estação de trem daquela cidade pacata e distante da capital paulista.

Embarquei. Aparentemente, sigo um ritual diário: sentar-me num banco de um vagão premeditado que me traga a vista de uma janela.

Percorro por lugares distraídos da zona leste de São Paulo com aquele sol se despedindo de mim. Ao meu redor estão pessoas, gestos, cheiros e o tempo correndo.

De uma forma melancólica e intrigante, me deparo com aquele pôr do sol. Ele se vai, e eu fico.

É tudo tão rápido, que eu duvido que aquelas pessoas que eu encontro todos os dias naquele vagão vão suplicar para que a lua dê o seu brilho de uma forma que traga alívio.

Desembarco na estação do Brás. Traços e passos. O ritual ainda continua quando eu observo daquela escada rolante o anoitecer vagando por ali.

Quando eu volto para a minha sã consciência, encontro-me na estação Ana Rosa.
A noite chegou. A calmaria, talvez. E a incerteza que uma cidade inquieta só irá dormir quando o dia raiar.



Crônica escrita especialmente na aula de Laboratório de Redação II - Jornalismo.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Capitão Vidal

Capitão Vidal é um monstro. Sim, senhores, um monstro. Mas não aquele monstro grotesco que eu, você e meu irmão mais velho víamos nos desenhos animados quando éramos crianças. Capitão Vidal foi um monstro sendo um ser humano, que nós o conhecíamos desde sempre nessa realidade.
Ele era grosseiro, orgulhoso e oportunista. Destruía os sonhos dos inocentes que acreditavam em contos de fadas como se fossem refúgios melancólicos. Ele citava as regras, e se fosse possível, matava o próximo sem nem um pingo de piedade. Aliás, ele não sabia o que era ter piedade, muito menos gratidão.

Esse é um tipo de monstro que vemos todos os dias e nós mal percebemos. Talvez, não seja necessariamente  nesta mesma ordem que eu citei. Mas vemos pessoas destruindo sonhos sem ao menos termos uma explicação.

Até quando iremos encontrar os capitães vidais por aí?

Um personagem que, por conta da realidade obscura, perdeu o encanto de sonhar e acreditar em contos de fadas.
Por mais que seja doído descrever a personalidade de Capitão Vidal, eu não o culpo. Mas não o defendo também.

São dois lados da moeda? Há sempre dois lados da moeda numa história surreal, meu caro leitor.

Apesar dos adjetivos sobrecarregados que estão no início deste texto, o Capitão Vidal não era o personagem principal dessa história. Mas ele fazia parte da história de uma jovem inocente que idealizava um lugar melhor de viver.
Talvez ele fosse a pior vítima. A vitima que não teve salvação, que perdera a fantasia de imaginar um universo paralelo.

Se um dia você se esbarrar com um Capitão Vidal, ou se tornar um, transforme-se. Mas se não for possível, paciência.

Meu dever é contar histórias e transformá-las em algo que não seja em vão. E por mais que seja dolorosa ou não, e que envolva inúmeros sentimentos, não deixarei de contar a sua história. Jamais!

domingo, 17 de agosto de 2014

Parecia que era minha aquela solidão...

Foi difícil acordar e perceber que o dia não te deu bom dia. Que a monotonia te persegue feito uma sombra. Que a única coisa que você acredita está desacreditada. Difícil perceber que as lágrimas são os piores entorpecentes de uma solidão.
Acreditar que amanhã será um novo dia ainda é difícil, mas não impossível. E que expulsar os seus demônios seja uma das únicas alternativas.
Parece que a solidão e o medo são os teus karmas mais grosseiros. Sinas perigosas. Sentimentos superficiais.
É uma batalha acreditar que a vida é passageira, que é preciso depositar toda fé, e deixar o pessimismo de lado.
Há anjos que te guiam, querendo o seu bem. Há anjos do outro lado da linha de telefone, dizendo que tudo vai dar certo.
É um misto de desespero, euforia e depressão. Depressão...
É necessário gritar, mas em silêncio. Dizer a alguém que os sentimentos ilhados rondam por aqui por motivos banais.
É um misto de ansiedade, de crise e de idade. Idade?
Tenha calma...
Um pouco mais de calma nesta alma...
Vai ficar tudo bem, sim...
É acreditar que o bom dia surgirá ao acordar. 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Da mais besta e vã alegria

Juro que eu tentei enxergar a Pitty que eu conhecia em 2004 nesta nova fase, nesta nova empreitada. Mas percebi que os tempos são outros e “SETEVIDAS”, novo álbum da cantora, veio para tirar o fôlego.  O meu, aliás.

A primeira vez que eu ouvi uma música da Pitty, lá em 2004 e graças a TV da minha amiga que estava ligada no canal MTV, transmitia o vídeo clipe “Admirável Chip Novo”. Eu tinha apenas dez anos de idade, estava na quarta série do ensino fundamental e me perguntava quem era aquela mulher que estava “robotizando” na TV. “É a Pitty, Ellen!” – “Pitty?”.
Desta minha interrogação veio à busca de saber sobre esta mulher, vieram admiração e alguns CDs.

Dois mil e quatorze. Passaram-se dez anos desta minha admiração por esta banda. Hoje eu curso Jornalismo, escrevo, leio, rio e choro. Mas diante destas inúmeras mudanças, aquele fogo de palha pela música e pelo crescimento sobre a banda Pitty nunca se apagou. Eu cresci também. Amadurecimento, sabe?

Quando eu decidi escrever uma resenha sobre o novo álbum da Pitty, pensei se sairia como “uma opinião de uma jornalista” ou “uma euforia de uma fã”. Dane-se.  E decidi sentar-me numa cadeira, e digitar no Word do computador o que eu penso.

“SETEVIDAS”. As letras juntas e em maiúsculas transbordam a clareza e a eficácia de que a Pitty não está só de passagem, afinal, ela ainda tem três vidas para gastar.

Após cinco anos do lançamento de “Chiaroscuro” (2009), Pitty guardava-se para si. Eu via o quanto os fãs ansiavam e aguardavam por um disco de rock. Mas lá estava o Agridoce num tom folk e meigo. A Pitty se arriscou de uma forma tão bonita, que me bateu um orgulho tão bom, mas tão bom. Gosto de gente que se arrisca.


As mudanças, tristezas, transformações resultaram nas composições que Pitty fez a este novo disco.
As canções que seguem como se fosse um roteiro de um filme, traz as inúmeras fases de Pitty. O disco inicia com “Pouco”, primeira faixa que tem um peso nas guitarras de Martin, traz a dor imensa, o desconforto, o intenso.

“Deixa Ela Entrar” é a sorte batendo em sua porta, insistindo para que você abra, afinal, assim como a sorte chega, ela também vai embora sem ao mesmo você ver. Ou finge que não vê. Então persista.

“Pequena Morte” é o tesão. Sim, tesão. Prazer dividido em dois seres. Satisfação. Pitty se expõe ao desejo. A sensualidade se sobrepõe aos versos da melodia.


Como se estivesse conversando com um garçom após ter tomado três tequilas, em “Um Leão” condiz com uma sintonia inabalável. As tequilas fizeram efeitos intermináveis. Arriiscando-se mais uma vez.

Em uma canção como uma despedida melancólica, “Lado de Lá”, assim que ouvi, lembrei-me do Peu (ex-guitarrista da banda). Foi embora de uma forma tão triste, tão grosseira, que na quinta faixa do disco, Pitty suplica para que o amigo – e tantos bons que já foram, - guarde pra ela um bom lugar.

Neste roteiro a dor permanece em “Olho Calmo”, porém, a canção transparece fortaleza ao mesmo tempo. Respire um dia de cada vez. 2013 foi um ano de revira-e-volta na vida pessoal da Pitty. A saída de Joe (ex-baixista)  abalou-se, sim, as estruturas, mas, depois do rancor, respirar.

Já posso dizer que tenho uma música preferida neste álbum avassalador? Sim, posso! Está cravada em “Boca Aberta” toda a identificação que tive com a letra. Mais uma vez um tapa na (minha) cara.
De forma direta (ou não), a letra transmite anseios, manias e costumes de uma sociedade que vive “na mesmice”. Tragam tudo sem ao menos se questionar. Por quê? Ainda não sei.

Porém, “A Massa” está ali, metaforicamente dizendo o que precisa e como precisa ser feita a receita. Beba, compre, venda. É a massa, meu bem.

“Setevidas” é o auge deste filme. Ela, eu, você morremos. E vivemos. E renascemos. E sobrevivemos. E morremos de novo. Até que nós mesmos podemos gritar aos quatro ventos que: voltemos! Quero ver nos aguentar! E assim seja.

“Serpente” é o alívio do recomeço. É o final feliz. Ou quase isso. É a troca do estar pelo ser (ou vice-versa). É o bem que venceu. É o resultado da angústia em forma de ver a quão esta mulher está bem. E procurando estar bem.

É sim da mais besta e vã alegria. É de parar a respiração. É de chorar, dançar e gritar junto. É de ver que a Pitty está de volta. De carne, osso e coração.



Foto: Pitty

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Uma dose de ilusão

A questão não era o por quê Jorge sentia tudo aquilo. Ele nem se importou quando a dose de conhaque acabara em seu copo. Aquele não era o motivo.
Jorge tinha obrigações como qualquer homem. Imaginava que Julia seria alguém que permitisse em amar qualquer coisa que pudesse ser insubstituível.
Julia foi embora antes do mês acabar. 
Mas, e daí?
Por incrível que pareça, Jorge não estava triste. Ele não precisava da tristeza.
Mas naquela segunda-feira, ele decidiu não ir trabalhar. Mal sabia onde deixara a chave da caminhonete.
Apenas ajudou a secar a garrafa de conhaque. Não era um refúgio. E sim, uma despedida.

"É claro que eu tinha planos dos quais você não sabia um terço. É claro que eu imagina o seu riso, a sua bronca e o seu jeito de estar e de ser. Mas você preferiu ir. Não te cobrei por isso, não te quis mais por isso. Eu sei que iremos nos reencontrar nesta vida, eu sei que irei conversar contigo. Não sou infantil a ponto de te ver passar em vão. Eu sei, Júlia, eu sei qual foi o seu motivo, mas por agora, dane-se."

Jorge queria ter a certeza que não iria sentir mais dor. Ele não sente mais dor. Ou finge que, como sempre, não sente a dor.
Ele voltou para a sala, pegou um livro e folheou como se aquele ato fosse a salvação.
Adormeceu.
E quando acordou, viu que tudo aquilo não era um sonho. 

terça-feira, 13 de maio de 2014

O espelho





A vaidade está ali, logo ali atravessando a sua imagem no espelho.
A imagem obscura não precisa receber elogios, se glorificar diante da sua obrigação.
Sinto cheiro de orgulho próprio também. E na maioria das vezes ele cheira mal.

A que ponto você iria para se sobrepor diante de um fato?

Não foi uma pergunta retórica. É apenas uma interrogação pregada na imagem fixada no espelho.







terça-feira, 8 de abril de 2014

Tudo dança em torno de ti

Clarice não tinha mais forças para chorar. Chorou o que tinha que chorar. E não aguentava mais.
Não aguentava aquela situação perturbadora. Clarice queria também ser notada. Ninguém notou a sua dor ilhada dentro de si.
Assim que amanheceu, Clarice enxugou as lágrimas. Sim, ela passou a noite chorando. Não deveria, mas foi preciso.

Ouviu um barulho no trinco da porta e, automaticamente, retornou à cama. Se debruçou com o travesseiro para engolir o resto do choro.
Lá estava o Paulo voltando de algum lugar que não seria o seu escritório de sei lá o quê. Assim que trancou a porta, jogou as chaves na mesa de centro da pequena sala de estar de um apartamento que ele e a Clarice construíram juntos.
Paulo se jogou no sofá. Clarice permanecia fingindo que estava dormindo. Ou quase isso.
Não sei qual era o pretexto de Paulo ao se justificar que ficou até mais tarde no trabalho. Clarice acreditava nele. Só não acreditava em sua mente inquieta.

Assim que o sol refletiu um brilho avassalador na janela do quarto do casal, Clarice despertou e se dirigiu até a sala.
- Paulo?
O Paulo dormia como um anjo que caiu do céu destrambelhado.

E então, Clarice decidiu em não despertá-lo. Retornou ao seu quarto, pegou uma mala, colocou algumas roupas e acessórios dentro dela, se vestiu com uma calça jeans escura, uma blusinha estampada e calçou uma sapatilha branca com poucos detalhes. Ainda assim, permaneceu calada. Arrumou os cabelos ruivos, e além disso, arrumou a cama do casal. Assim que sentiu que estava pronta para partir, Clarice pegou a sua caderneta, caçou uma caneta numa das gavetas da cômoda e escreveu o que sentia. Destacou a pequena folha decorada com flores e a deixou no centro da cama. E partiu. Sem lágrimas e sem bater a porta.

O telefone tocou, Paulo acordou assustado. Correu para atender a ligação, mas não deu tempo. Viu que o relógio apontava dez e trinta da manhã. Tentou raciocinar com o que se passara antes disso. E fingiu que estava tudo bem.

Ele olhou para a porta do quarto onde ele e Clarice dormiam. Se direcionou até lá, e assim que chegou na porta do quarto, viu que  a mulher que sempre o amava em dobro não estava mais deitada naquela cama como antes.

Ele viu que era o fim: um bilhete no centro da cama.
Se sentiu culpado, mas nem por isso deixou de se sentar na ponta da cama, olhar para o pequeno papel e lê-lo.

"Paulo, meu grande amor que sempre amei. Tive que partir. Não quis te incomodar com o meu choro abafado, e nem te dar satisfações das quais eu sempre pedia a você. Talvez a minha precipitação fosse o meu grande erro. Talvez a sua falta de atenção fosse o motivo da minha partida.
Um dia, voltarei e falarei para ti que estou bem. Mas, enquanto esse dia não chega, assim vou trilhando o meu caminho. Sozinha. E em silêncio.
Até breve.
Clarice."

Por incrível que pareça, Paulo também chorou. E chorou sozinho. Chorou por tudo aquilo que ele não tinha feito por Clarice, mas também chorou por alívio.

Não sei se um dia eles voltaram a se reencontrar. E se voltaram, talvez o silêncio fosse o pretexto, pois o destino já não existia mais. Não para os dois. E não para as lágrimas.

segunda-feira, 7 de abril de 2014

O que é ser jornalista hoje em dia?


Eu acredito em sonhos. Nos meus, aliás. Então eu sempre sonhei em ser jornalista. E o que é ser jornalista hoje em dia? Eu não sei. Sim, futuros jornalistas e os próprios já formados costumam dizer “eu não sei” naturalmente. Todos deveriam ser positivos ao negar algo.
Curiosidade, vontade de aprender e ter ética são fundamentais para que eu siga esta profissão com dignidade. Ultrapassar limites faz parte também. Eu, por exemplo, os ultrapassei quando eu decidi cursar jornalismo.
Não é apenas “gostar de escrever”, afinal, escrever todo escreve. Mas ter um faro, ser o que você é na vida real e transformar a sua opinião formada em um vínculo de sabedoria é fundamental para que eu possa ser uma jornalista reconhecida. Ser jornalista não é ter “fama”, e sim, profissionalismo.
O que eu acho você tem o direito de não concordar. Ser jornalista é respeitar a opinião do próximo. É cutucar a onça com vara curta. É assumir o risco, a paixão e a vontade de saber mais e de informar mais.
Talvez eu não esteja totalmente pronta para encarar um universo misto, mas estarei pronta, para um dia, te dizer o que é ser jornalista hoje em dia.

7 de abril - Dia do Jornalista.

terça-feira, 18 de março de 2014

Resenha: “O menino que pintava sonhos”, de Duca Leindecker

Em um universo totalmente envolvente, o músico e escritor, Duca Leindecker, mergulha em um mar de sentimentos onde traz a ternura e a curiosidade numa leitura intensa. Pois é desta forma que se resume o seu terceiro livro lançado no ano de 2013 pela editora L&PM Editores, o exemplar “O Menino Que Pintava Sonhos”.

Diferente dos gêneros de seus dois últimos livros publicados – “A casa da esquina”, lançado em 2002, e o “A favor do vento”, de 1999, cujos publicados pela mesma editora (L&PM Editores), – onde o autor contava sobre a sua vida pessoal e profissional, o livro “O menino que pintava sonhos” leva o leitor a uma imaginação abstrata e ao mesmo tempo simples e significativa à vida do personagem Jules, que enfrenta um mundo repleto de desafios, perdas insubstituíveis e sonhos alcançáveis. Traz consigo também a vontade de vencer a cada dia, independente do que espera no amanhã.

É assim que o gaúcho, Duca Leindecker, ressalta e prende a visão e o pensamento do leitor as histórias em formas de crônicas que são transformadas em momentos inesquecíveis e surpreendentes, no qual, qualquer um de nós pode vivenciar com o personagem Jules com uma leitura agradável em “O menino que pintava sonhos”.

Conheça mais sobre o DL: : http://www.ducaleindecker.com.br/



Nota de rodapé: o texto publicado acima foi escrito especialmente para a aula de Laboratório de Redação I, do curso de Jornalismo (1º semestre), onde o tema abordado era "Resenha Crítica". E cá está a minha! 

Ana CrisTina


Ana Cristina ou Tina? 
Eu não sei. Só sei que é um doce de menina. Ou melhor: uma menina-mulher.
Uma mulher dos olhos vibrantes e com um olhar avassalador. 
Avassaladora com a sua independência. 
Tina é a mesma menina-mulher que sonha acordada. 
Que atravessa obstáculos sem pensar duas vezes.

Há quem diga que há uma pitada de melancolia na sua personalidade, mas eu tenho dúvidas!
Tina pinta sonhos num quandro ilimitado, onde neste mesmo quadro há uma ponte para o dia. 
O dia onde a mesma Tina ganhe o mesmo mundo com o seu talento de ser o que ela é: 
Tina ou Ana Cristina.




Nas primeiras aulas de Laboratório de Redação I, do curso de Jornalismo (1º semestre), o professor Cristiano explicou para turma o que seria uma descrição.

Da mesma forma, o professor pediu que nós, alunos, fizéssemos uma descrição sobre alguém. Então eu escolhi uma colega de classe. Ela é a atriz, modelo e dona de um coração puro. O nome dela? Tina! (Ou seria Ana Cristina?) 

sábado, 8 de março de 2014

Os olhos dizem sim. O olhar diz não.

A minha segunda xícara de café acabara de esfriar quando eu te vi atravessando a imensa faixa de pedestre daquela avenida quase movimentada, vindo de encontro a cafeteria onde eu estava.
Eu tinha a leve sensação de que te conhecia há tempos, mas eram só algumas semanas.
Vi no seu olhar uma timidez nítida. Poucas palavras já diziam o quanto eu estava envolvida contigo, e sem você perceber. Ou você percebia e fingia.
Você me olhou, me cumprimentou e disse que eu estava linda com os cabelos soltos. Confesso que estava muito calor para deixar os meus cabelos soltos, mas como eu já sabia dessa tua visão abstrata sobre a minha beleza, acabei deixando a presilha em casa mesmo, perdida numa das gavetas da estante.
Você pediu um café também. E eu pedia ao destino que ele fosse justo comigo só desta vez.
Conversamos tão pouco, mas dissemos o necessário. O café foi só mais um pretexto, ou um ponto de encontro, sabemos disso, mas eu já sabia que ali teria um motivo. Um belo motivo.
Seria a hora exata para te dizer o quanto eu te admirava, o quanto o seu sorriso me fascinava e o quanto a sua presença me fazia bem. Mas, infelizmente, eu não tenho toda essa coragem.
Então decidi só te ouvir. Ouvi tão pouco de você. Esses poucos nos perseguem, reparou?
O nosso café acabou e eu não queria me despedir de você. As despedidas são tão desnecessárias.
Nos levantamos, você ajeitou a sua jaqueta preta e eu caçava a carteira bege que se perdia na minha bolsa. Quando eu fui reparar, você já tinha pago as minhas xícaras de café por pura gentileza, e antes que eu te retrucasse, você sorriu de uma forma tão singela que eu não consegui dizer mais nada a você a não ser um "Obrigada, querido!"
O abraço duradouro foi resposta para que possamos repetir aquele momento em outra cafeteria ou em qualquer outro lugar. A distância não seria a nossa inimiga, pois eu sei que quando a gente gosta de alguém, a gente enfrenta barreiras intermináveis.
E eu estou pronta para enfrentar todos e tudo por você, por nós e por um sentimento que estamos descobrindo juntos: o amor.
Cuida-se, anjo.

domingo, 2 de março de 2014

Amor platônico

E mais uma vez imaginei você ao meu lado. A semana não termina e mal começa sem ao menos eu só te olhar. Um olhar e já basta. Não preciso falar contigo, não preciso te tocar. Um olhar já corresponde o que eu já sei sobre você. Ou o que eu não sei. É, eu não sei...
Te imagino de longe também. Talvez a imaginação seja um refúgio. Imagino os seus melhores defeitos e as suas piores qualidades. O teu riso escondido. A tua seriedade inquieta.
Imagino o caos que isso deve causar também. As inúmeras desavenças, as mentiras e até mesmo a dor.
O amor quase perfeito, a transa e o calor.
Ouço a sua gargalhada de manhã, a imagino também. Me sento na cama todo dia de manhã, o sol já está brilhando e os ruídos de uma cidade começam. Nada me aflige a não ser sem te ter em um dia normal.
Não quero e não posso te explicar tudo e sobre todos. Não quero e não acho justo. Tenho medo. A distância também teme.
Você apareceu como se fosse algo por acaso. O acaso planeja as surpresas da vida como ninguém. Te nego também, pois são as decepções que te acusam como um alguém qualquer.
O futuro está logo ali e talvez você esteja nele. Não te destaco como uma pessoa qualquer. Apenas te destaco. Ataco, se for necessário. Caso contrário, deixo como está. E como sempre foi.
O amanhã já está chegando e quero te olhar outra vez. Mais uma vez e por uma única vez.
Qualquer dia eu te digo o por quê disso tudo. Mas, enquanto isso, não se importe com o quê o destino te reserve. O destino pode ser o nosso melhor amigo, e sua por vez, um abismo atentador.
Boa noite.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A rotina

O despertador não tocou no horário previsto. O silêncio predominava qualquer miado dos gatos que viviam na varanda. Eu estava, mais uma vez, atrasada. Correr contra o tempo nunca foi o meu forte, porém, era o necessário. Uma noite mal dormida. Um sono acumulado e alguns dias da semana para sobreviver.
A máquina, as pessoas, os estranhos. Componentes da minha rotina. Rotina.
Fim de tarde. Eu e o tempo. Alcançá-lo, e se possível, ultrapassá-lo.
Descer as escadarias para entrar num trem com ar condicionado. Ler o livro que vivia na mochila encantada. A viagem não limitava a leitura. O calor eternizado abafava qualquer tipo de situação. Os olhares. As curiosidades. O cansaço.
Os degraus continuavam. Cidade de pedra me recepcionava. O metrô sem o ar condicionado não. Caos. Atraso. Informações. E mais caos. E por fim, o destino desejado.
Subir as escadas para chegar no segundo andar daquele prédio obscuro, porém, caloroso. Os degraus não tinham fim.
Risos, conversas e concentrações. Matando um leão por dia. Tentando ser o que tantos acham que eu posso ser. E serei!
A volta para a casa. As pessoas estranhas e os olhares continuavam, mas, no sentido contrário. A viagem duradoura. O trem, que por sorte ou não, era agradável. Tempo. E mais tempo.
O agradecimento por mais um dia.
O silêncio da casa permanecia. O banho rápido, mas, precioso, justificou que já era tarde da noite. Todos dormiam. Menos eu.
Por fim, a cama, o lençol e o travesseiro permaneciam lá, quase intactos. 
E a certeza de que o meu velho e querido despertador toque no horário previsto amanhã de manhã. Se possível, sem atrasos.
Até amanhã.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

De amar em vão , cansei!

Me arrisquei todas as vezes que eu estive ao seu lado. Me arrisquei pensando em você e nas tentativas de que iríamos dar certo. Eu, boba como sempre fui, acreditei em todas as palavras que você me dizia, em todas as frases de amor, solidão e angústia. Você me usava de todas as formas. E eu jurava que era amor. Você não me amava. Nunca me amou de verdade.
O sentimento ilhado continua aqui da mesma forma que você deixou. Peguei as suas tralhas e, ao invés de jogá-las do décimo quinto andar, simplesmente deixei na casa de seu primo.
Aliás, seu primo me disse que você já estava com outra. Quantas outras já passaram na sua vida quando você estava comigo?
Eu acreditei que iríamos dar certo. Eu acreditei na possibilidade de que iria subir no altar e jurar que viveríamos até o fim. Você mentiu. Eu me enganei.
Escrevo tudo isso na ânsia de desabafar tudo aquilo que eu não consegui dizer quando eu te vi aos beijos com Karina na saída daquele bar movimentado. A Karina é a sua nova outra?
Gostaria de te dizer também que não me tornei feminista. Saio com outros caras. Me divirto e volto pra casa. Sã, penso que tudo aquilo que não aproveitei contigo, aproveitarei com outros. Outros que são e que serão melhores do que você.
É claro que eu queria que as coisas fossem diferentes, mas você não depositou nenhuma gota de desejo por nós. Eu ainda choro, sim. Choro por acreditar que eu passei por teus braços como um objeto. Objeto fálico.
Aprendi a fumar por sua causa. Um perigo que se tornou refúgio após aquela cena imperdoável. Sim, me tornei o dobro do que eu era no requisito calculista. Culpa daquele maço de cigarro substituindo o nosso primeiro e último porta retrato sob a estante. O porta-retrato se tornou pedaços. 
Também aprendi a ser o que eu sempre quis ser. Onde você não queria que eu fosse. Hoje eu sei o quão sou importante para mim mesma. O quanto o egoísmo faz parte de mim. Não me tornei uma pessoa amarga. Só me tornei alguém mais esperta. Se é que você me entende.
Nenhuma carta com tantas palavras irá traduzir o que hoje eu sinto por você, Diego. Eu não consigo te odiar.. Só consigo sentir pena de você. Sinto que o seu fim não será tão calculista a ponto de achar que todo final será feliz. Não da forma que você deseja. Não do jeito que o destino quer.
Antes que as cinzas do meu cigarro se esbarre nas vírgulas, finalizo te dizendo que te entregarei esta carta olhando nos seus olhos. Eu sei que será difícil. Deve ser difícil para alguém que está lendo agora. E espero que não seja nada fácil pra você.
E desta forma que te demonstro que eu posso ser forte sim, que eu posso ser feliz sim. E a melhor parte é que será sem você.
Por fim e pela última vez, se possível nesta e nas próximas vidas, adeus, Diego. Adeus.

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

De outros carnavais, com outras fantasias...

Às cinco horas da tarde o sol continuava a arder. Fernanda detestava todo aquele sol, todo aquele verão interminável de dois anos atrás. E detestava a ideia de ir caminhando até o ponto de ônibus. Ardendo. Ela era a única a estar debaixo daquele sol já às cinco e vinte da tarde, esperando o ônibus que nunca chegava.
Fernanda tinha sonhos. Sonhava acordada todos os dias. Enquanto tentava voltar ao mundo real, Fernanda abriu a sua bolsa, caçou por dois minutos os seus fones e os plugou em seu celular. "Preciso atualizar esta playlist", disse Fernanda.
O ônibus chegou. Fernanda entrou. Cumprimentou o mesmo motorista, e ultrapassou a catraca. Sentou-se no mesmo banco de sempre onde o sol não atrapalhasse. O ônibus estava vazio. Quase vazio. Eram as mesmas pessoas. Os meus cheiros. As mesmas paradas.
Numa dessas, um homem bonito, que aparentava ter seus 27 anos, sentou-se ao lado de Fernanda. A Fernanda nunca reparava nas pessoas que sentavam ao seu lado na ida e na volta do trabalho. Mas dessa vez foi diferente.
Atração. Essa foi a palavra e o sentimento que a Fernanda sussurrava para si mesma. Tentou tirar a pior cara de sono, sentou-se corretamente, desconcertada, no banco. O homem a olhou. Ela desviou o olhar.


"Que menina linda", disse Celso, ao olhar para a moça tímida que já estava sentada quando se sentou naquele ônibus quase vazio. O Celso acreditava em destino. Já aquela menina, em sonhos.
Parecia besteira, mas era o acaso. Acaso e destino. Sonhos e mais sonhos. Em qual você acredita?
Celso não iria entrar naquele ônibus se não fosse um único motivo: ele já conhecia a Fernanda de outros carnavais. Era o destino! Talvez. Uns acham que foi atração.
Os dois fortaleceram as amizades. Se conheceram melhor. E Fernanda não foi pra cama com ele no primeiro encontro. Celso era diferente.
Fernanda deixou de sonhar acordada debaixo daquele sol de verão. Criou motivos para acreditar em destino. Acreditou no destino quando aquele mesmo rapaz que a olhou dentro daquele ônibus, sorriu para os seus olhos antes que a Fernanda desviasse o olhar.
Não me pergunte se foi amor à primeira vista. Não sei mais se foi acaso ou destino. Foi o amor.
Sim, o amor.