domingo, 13 de setembro de 2015

Incógnita

Descobri que falta algo para saber quem é você. Eu, até hoje, não descobri. E como já disse em outras ocasiões, eu tenho medo de descobrir quem é você realmente.
Passei a minha vida me policiando, achando que seria um erro arriscar ou apagar mais um cigarro por você. Continuo com as mesmas sensações, com os mesmos receios e arrependimentos. Eu ainda não me curei do trauma que tenho de mim. Do trauma que carrego sobre mim. É forte e é confuso. Do jeito que você é para mim.
Mas você veio. E pairou. E continua aqui. Aqui dentro desse coração idiota, que percebe que será "só mais um", que engole seco ou sem gelo a bebida sobre a mesa.
Eu não queria viver dessa forma, estar nessa forma, me sentir dessa forma. Penso em me afastar. Mas ao mesmo tempo, penso que me afastando, irei te perder. Mas, perder alguém que eu não conheço?
Estou me alimentando de um amor impróprio. De um amor que não me pertence. Que, no fundo, machuca. E você nem sabe disso.
Por que tem que ser assim? Desse jeito bobo? Desse jeito confuso.
Outro cigarro.
Outros medos.
Outros e outros.
E mais outros.
E continuo aqui, me policiando. E não saberei até quando.


Eu não sei muito bem o porquê disso tudo agora. Talvez, quando eu for embora, já me encontrarei arrependida. E você... Não vai nem notar. Por que, para você, é normal toda essa minha sensação de desespero e fragilidade.
Dessa vez...
Não. É melhor não planejar.
Talvez - outro talvez - tudo dará errado outra vez...
Não entenda. Não me interrogue. Não me deixe partir.
Mesmo se for preciso.

De sua menina.

domingo, 26 de julho de 2015

Três da madrugada

Percebi o silêncio que rondava a simples sala de estar com aqueles poucos velhos móveis que pertenciam ao meu apartamento. Me vi amarrotada com a camisola lilás que você me presenteou no meu aniversário de vinte e cinco anos. Amarrotada por ter dormido naquele sofá que você achava aconchegante. Muitas noites ali com você.

Mas não me consumi a isso.

Me levantei. E em seguida, destrambelhada como sempre fui, tropecei nos chinelos que você deixara pela casa. A minha casa.

Eram três da madrugada. Droga! Certamente, eu iria me atrasar para ir trabalhar no dia seguinte - pensei. Mas, por um instante, ignorei todos os fatos que iriam me levar às consequências na breve quinta-feira que viria a amanhecer.

Abri o armário, peguei um copo daquele conjunto ridículo que eu ganhei da vizinha do 205. Me saciei com a água que percorria minha garganta, matando a sede sem fim.
A sala e a cozinha estavam às escuras. Ou melhor, quase às escuras. Percebi que a luz do quarto de casal estava acesa e permitia que a claridade iluminasse os demais cômodos.

Quem foi que esqueceu a luz acesa? Ok, já sabemos a resposta.

Você foi embora. De novo. E esqueceu de apagar a luz do nosso quarto. De n...
Pela primeira vez, não me importei com a sua breve eterna ausência. Você sempre ia. E voltava. E me tratava como a mulher da sua vida, mesmo eu não me considerando a sua mulher de todos os dias.

Não sei nada de você. Nunca soube. E não sei se saberei algum dia. E se eu souber, vou fingir que não sei quem é você. Totalmente.
A minha maturidade não estragará o sentimento em forma de paixão que sinto por você. E pelos cinco anos temos juntos. Ou tivemos.

Voltei para o velho sofá. O nosso melhor lugar. E dali, prometia a mim mesma que as juras de amor que eu já fizera a você, seriam guardadas por mim e aguardadas por ti. Talvez, em breve.
Mas longe de mim cair no conto de fazer planos. Não dessa vez. Não por você...

Mas, por nós.