quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Saber voar quando não existe mais chão

Maurício acordou pontualmente às 08h30 da manhã, atordoado, foi até a cozinha. Viu que a Adriana não estava mais naquela cozinha. Não estava mais naquela casa. Não estava mais na vida de Maurício há seis meses. O Maurício ficou sentado na cadeira que um dia foi da Adriana. Olhava para xícara e com o mesmo sabor amargo daquele café, sentia-se a mesma amargura de todos os dias. E então decidiu ligar para Adriana.
A casa era imensa. Maurício e os seus pensamentos se perdiam naquela imensidão.
Ela não quer me atender. Concluiu após tentar três vezes seguidas. Se arrependeu em tentar. Tinha os seus motivos.
Após aquela briga imperdoável, a Adriana voltou para a casa de seus pais. Ela também estava distante e atordoada. Orgulhosos do jeito que sempre foram nunca mais se falaram.
Naquela mesma manhã, Adriana decidiu dormir até mais tarde, por isso que ela não atendeu nenhuma das ligações de Maurício.
Acho que o relógio já apontava às 10h da manhã. Adriana detestava em acordar e não encontrar o seu amor deitado ao lado esquerdo da cama. Não sentia mais o seu cheiro. Não ouvia mais os seus suspiros. E os sorrisos já se foram. Ela não confessava, mas qualquer um podia ver que ela sentia a falta dele. Todos os dias.
Drica, - como era chamada por Maurício -, passou dez minutos procurando o seu celular. Ela não tinha uma boa memória.
Ele me ligou três vezes? Como eu não escutei o celular tocando? Simples: estava no modo silencioso. Drica foi até a janela de seu quarto. Deixou o tempo passar até ter uma resposta. Na expectativa do celular tocar mais uma vez, ele não tocou. Ele não ligou pra ela. Nunca mais.

Os anos se passaram e o Maurício se casou. Parece que hoje está feliz. Aprendeu a colocar a quantidade certa de açúcar no café matinal.
Adriana não se casou, mas foi morar em Nova Iorque. A tão esperada chance de trabalhar em outro país surgiu quando concluiu a sua faculdade de Comunicação Social.
Eles aprenderam a conviver sem ter um ao lado do outro. Aprenderam a dizer adeus sem saber se poderiam ter dito. Conviveram tão pouco. A briga foi tão boba. Foi tudo tão rápido, tão intenso. Mas foi melhor assim, acredite!
Não foi nada fácil. Sentiram saudades um do outro por muito tempo, mas precisavam acordar para a vida nem que fosse pontualmente ou até um pouco mais tarde.
Não é fácil lidar com o fim, mas foi necessário.
Hoje os dois estão bem. Distantes, mas estão bem.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

#ParabénsPitty

Hoje, 07 de outubro de 2013, acordei por volta das 07h00 da manhã. Tomei banho, me arrumei e fui trabalhar. À caminho do trabalho, lembrei que hoje a Pitty estaria completando trinta e seis anos.
Caralho, como deve ser a sensação de completar 36 anos? Como você está se sentindo hoje, Pitty?
Parece que os 36 anos está te fazendo bem. Sem ironia, você está cada dia melhor. Mais mulher, mais linda, mais foda!
Há dez anos atrás eu estava aprendendo a gostar da sua música e você tinha 26 anos. Caralho, como o tempo passa! Hoje eu não tenho 36 anos, mas tenho 19 e vejo que o tempo passa para todo mundo.
Eu queria fugir dos clichês de aniversário e saber te dizer as palavras certas nesta data. Mas é difícil controlar tudo aqui.
A sua música, a sua personalidade, o seu jeito de ser, e a sua forma de opinar contra ou a favor são as suas principais características. As melhores, talvez.
Será que você se imaginaria com 36 anos agora há dez anos atrás? Eu quando era criança, ficava contando os anos nos dedos das mãos. "Daqui dez anos, vou estar com tantos anos!"
Hoje estes "tantos" me trouxeram a sabedoria para te admirar o suficiente e te respeitar acima de tudo.
Eu queria te conhecer melhor. Queria dizer olhando nos teus olhos o carinho imenso que sinto por ti. Você, uma libriana arretada, transborda sentimentos nas suas composições e é com esta sua ação que me faz ficar tão próxima de ti.
Eu sei e todo mundo já sabe que tudo que se refere a você, eu fico idolatrando. Talvez hoje eu não tenha o mesmo tempo livre para te admirar como em 2003.
Eu cresci. Os seus fãs daquela época também cresceram. Cresceram mentalmente graças as suas composições, acredite!
O importante é ser você. E você está aí sendo você mesma há trinta e seis anos. Hoje os tempos são outros. Você não me conhece e eu te conheço há dez anos.

Eu sei também que hoje não é a primeira vez que você está recebendo tanta homenagem e tanto carinho ao mesmo tempo. E graças a Deus não será a última vez.
Eu tô aqui escrevendo tudo isso ao som de Agridoce, que por sinal, foi a melhor coisa que se arriscou.
Arrisque mais pra não se arrepender. Aprendi isso com alguém!
O meu primeiro show de rock foi com você. No lançamento do seu terceiro disco de estúdio numa rádio de São Paulo. Eu pude olhar nos teus olhos, te receber com um abraço e dizer as poucas palavras que disse.
Acredite! Você realizou um sonho de uma garota que tinha 15 anos no dia 11 de agosto de 2009. Ela te agradece por este sonho realizado até hoje.
E eu, que estou aqui do outro lado, na ânsia e na desistência de te enviar um e-mail, só quero que você realize os seus sonhos também.
Eu não sei se estava escrito no destino que um monte de fã te desejaria tudo de bom hoje. Que duas palavrinhas fossem parar nos TTsBr do Twitter. Quem diria né?
Espero um dia voltar a olhar nos teus olhos. Mesmo sem saber o que dizer, mesmo sem você me conhecer, e mesmo que o tempo esteja contra mim, eu só queria que aquela menina de 15 anos voltasse a te dar um simples abraço. Um abraço de agradecimento, sabe?
Eu também quero te agradecer. Você é muito além de um rostinho bonitinho. Você se tornou um alguém totalmente inigualável e importante. Eu sei que você tem uma porrada de defeitos e eu não quero esconder isso a ninguém, afinal, você é feita de carne, osso e coração.
Desculpa-me se é muita baboseira tudo isso. Acho que não tenho mais idade para se declarar. Mas tenho mentalidade o suficiente de te desejar um universo repleto de amor, uísque e sabedoria. Obrigada por você ser esta mulher e esta menina sapeca ao mesmo tempo. Forte e sensível.
Por fim, hoje eu sei que você aos 36 é melhor que aos 18.
Parabéns pelo teu dia. Todos os dias. Parabéns, Pitty!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Alguém que parte, e não volta...

Todos os dias eu venho ao mesmo lugar.
Às vezes fica longe, difícil de encontrar...


Ontem, pela primeira vez, pude falar de ti. Consegui falar de ti. Parece que todos os meus pensamentos se transformam em lágrimas quando eu penso em ti, e no tempo que passamos juntos. Foram oito anos de muito amor, carinho, brigas e paixão. Oito anos que me entreguei a ti. Foram oito anos de um fruto especial.
As pessoas ainda percebem como eu me sinto, mas eu tento de alguma forma reverter esses demônios que me atormentam. Eu nunca irei me conformar. Nunca!
Queria te dizer também que estou louca de saudades de ti. Todos os dias eu sinto a sua falta. Todos que gostavam de você também sentem. Todos os dias!
Além desta saudade que não me conforta, mas que me cobre de nostalgia, queria te dizer que a nossa filha está linda. Aline cresce a cada dia. Sua mãe outro dia me disse que ela está se parecendo, a cada passo, contigo. Meus olhos brilharam quando ela me disse isso. Eu sorri em forma de gratidão. 
Eu queria muito que você estivesse aqui. Aline também queria.
Quando você partiu daquela forma que ninguém conseguiu entender, a nossa pequena iria completar três anos. Amanhã ela completará seis. O tempo está passando e você não está mais neste tempo. No nosso tempo.
Tento entender todos os dias o por quê a vida foi tão injusta conosco. Mas quando eu olho para Aline, a vejo como eu tivesse você nos meus braços. Os seus traços refletem nos olhos de nossa pequena.
Nestes últimos anos, tentei lutar pela justiça por você, pela Aline, por nós. Mas nada irá te trazer de volta. Nada!
Eu não queria me cansar, luto para criar a nossa pequena. Ela é a única razão do meu viver.
Me despeço de ti pela segunda vez na semana, debruçada neste túmulo de mármore, revestido de poucas flores. As flores estão vivas ainda. Estas flores representam o meu amor que nunca morrerá por você, Marcelo.
Você sempre foi o meu primeiro e grande amor. E eu sempre irei me lembrar daquela praia deserta e nublada onde nós nos vimos pela primeira vez.
Vou continuar lutando por ti, pela a Aline e por todo este amor que construímos juntos.
Eu te amo. E sempre vou te amor.
Descanse em paz.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Reencontro(s)

O rosto era o seu. (Seu rosto de menina).

Eu não tinha muito o que fazer além de observá-la, discretamente. Tímido do jeito que eu sempre fui, desde os meados dos anos oitenta, não conseguia me conter. Acho que ela percebeu o quanto a sua beleza me constrangia.
A Carolina veio falar comigo. Ela veio falar comigo!
- Renan! Quanto tempo!
Ela me reconheceu.
Carolina continuava linda, do jeito que sempre foi.
Eu não queria contar que a minha vida estava um caco: comecei a fumar depois que terminamos o colegial no final dos anos noventa. Mas pelo meu sorriso sem graça, ela percebeu que eu não tinha tantas novidades assim...
- Carolina...  Você continua tão linda...
Foi o que eu pensei de imediato a falar, mas no final do meu raciocínio só saiu um "Oi Carolina". Como eu pude deixar escapá-la?
Ela gostava de ouvir música folk e tocava violão muito bem. A gente se conheceu no início do colegial, e nos desconhecemos no baile do último ano do colegial.
Mas ontem, Aaah... Ontem! Carolina gravava nomes e datas como ninguém!
Fiquei me perguntando como ela conseguiu me reconhecer naquela lanchonete tão lotada... Antes que eu estragasse tudo pela segunda vez, mantive os meus pensamentos calados.
- Você ainda está morando com os seus pais?
"Não. Mas o que eu queria era morar com você, Carolina". Só que eu me calei. Calei os meus pensamentos pela segunda vez naquela noite.
- Não moro mais com os meus pais. Estou morando num apartamento que eu comprei.
Ela sorriu com uma afeição. Um sorriso de gratidão à vida por ter me proporcionado aquele reencontro.
A gente não tocou em nenhuma palavra que se referia ao nosso passado. Foi melhor assim.
O celular de Carolina tocou. Ela o atendeu. Acho que a ligação era muito importante, pois aquela moça bonita, dos olhos verdes tirou o sorriso que me cativava e o trocou por um olhar sério. Ela teve que sair. Carolina partiu pela segunda vez, e por culpa deste ser que vos escreve, eu não a impedi. Na ânsia de tê-la novamente, voltei para casa com um único pensamento:  eu só queria mais um reencontro...



  Quando te vi tive a certeza de que não seria a última vez.

Por quê o meu telefone foi tocar justo naquela hora?
Eu só o atendi porque era urgente. Eu tive que sair daquela lanchonete porque era a minha mãe ao telefone.
Mas quando eu voltei, o Renan já não estava mais por lá!
Era incrível como a sua timidez ainda o constrangia. A timidez dele me contagiava também.
Será que ele ainda sabia que eu gostava de ouvir música folk e que eu ainda sabia tocar violão? Os anos se passaram depois daquele baile. Ontem, na lanchonete, os minutos se passaram também.
Tentei puxar assunto e eu comecei com a pior pergunta. O perguntei se ainda morava com os pais.
"Porra, Carolina". É, eu sei... A euforia de puxar assunto foi pior do que o meu raciocínio.
O Renan continuava encantador. Sempre foi.
O destino brincou com a gente, mas brindou conosco naquele reencontro. No instante em que eu parti, torcia para que o Renan ultrapassasse a sua timidez e me impedisse naquela saída da lanchonete. Mas nada aconteceu do jeito que planejei.
Depois de ontem, naquela lanchonete, cheguei ao meu apartamento e fui até a sacada abafar a minha euforia. E fiquei pensando no Renan.
Graças ao acaso e àquela pergunta ridícula que eu fiz a respeito de sua moradia, que o apartamento que o Renan mora atualmente, fica em frente ao meu prédio.
Enquanto a minha euforia ia embora, reparei daquela sacada que o dono daqueles passos era os de Renan. Ele entrou no prédio, mas ele não me viu.
Se ele ainda desejou, um dia, me reencontrar... reencontrará!
Nos reencontraremos!

Boa noite, diário!

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Acolher a prenda ou partir.

Já passavam das nove horas da noite quando Manuella trancava a porta de seu escritório de advocacia. Passaram-se também as alternativas do que ela poderia fazer para a janta.
Miojo ou lanche? Pensou. E estava faminta.
Mas antes de percorrer o longo caminho até chegar em seu apartamento, localizado em um bairro de São Paulo, Manuella teria que pegar um ônibus. Sentia-se revoltada quando pensava que e o seu carro, seu suado carrinho, estava no mecânico por quê o bendito motor deu problema. Manu, - como gostava de ser chamada pelos poucos amigos íntimos -, teria que andar uns quinze minutos até chegar no ponto de ônibus.
Acho que hoje será lanche na janta. Sua mãe vivia reclamando dessas suas jantas.
Estes poucos quinze minutos caminhando, além da janta, Manu pensava em Felipe. Manu pensava também como poderia resolver um caso importante que a tormentava. Seu relacionamento com o Felipe.
Caminhando vagarosamente, como se tentasse driblar suas vontades e angústias, Manu observava as pessoas. E estas pessoas não deixavam de observar a sua beleza. Cabelos ruivos, uma pele bonita, olhos azuis. Usava naquela noite, uma calça preta, uma camiseta básica e uma jaqueta cinza. Ela não ligava muito para vaidade. Mas não precisava. Ela era bonita por se só. Por ser só.
Gostava de pensar de como foi o dia. Bom ou ruim, Manuella fazia uma reflexão de qualquer jeito.
Chegou no ponto de ônibus. O ônibus não demorou. Ela entrou, e com um sorriso cativante e simpático desejou "boa noite" ao motorista, educadamente.
Era incrível a capacidade de sua educação.
Cumprimentou o cobrador também. Já na catraca, abriu a sua bolsa, caçou a carteira que ganhara de aniversário de seu pai, e retirou o dinheiro da passagem.
Manu costumava sentar-se nos últimos bancos. Mas nesta noite, decidiu sentar-se na anti-penúltima fileira de acentos, na direção do cobrador.
Sabia que enfrentaria quarenta minutos até chegar em seu apartamento. Manu morava sozinha.
Com o pensamento distante, traçou um dos braços na alça de sua bolsa, encostou a cabeça no encosto do banco, e encontrou-se pensativa. 
Pensara se ainda tinha presunto e queijo dentro da geladeira. Pensara se o Felipe deixou algum recado na secretária eletrônica. Pensara se tinha coragem em, ainda, falar com o Felipe.
Acho que preciso dormir durante três dias.
Manu tinha 27 anos e já carregava o mundo em suas costas. E o mundo pesava.
Depois do ônibus percorrer os quarenta minutos, Manu chegou em casa. Não olhou no relógio para não se assustar em acordar daqui a pouco, mas tinha a ciência de que passara das dez e meia da noite.
Amarrou os cabelos. Jogou a bolsa no sofá. E foi para cozinha.
Lavou as suas mãos, que por sinal, não estavam com as suas unhas feitas. Eu já disse para vocês que a Manu não ligava para vaidade?
Que fome! Foi a única coisa que conseguiu pensar naquele instante.
Fez o lanche e foi sentar-se no sofá. Cruzou as pernas e devorou aquele pão com presunto. Acabara o queijo. Mas ela não se importou.
Foi conferir os recados da secretária eletrônica enquanto pegava as migalhas que caíra no tapete centralizado em sua pequena sala.
Um dos recados era de sua mãe: " - Manuella, há três meses que você não aparece em casa para nos visitar. Está tudo bem, filha?"
Manu sabia que não estava tudo bem, até ouvi o recado de Felipe.
Felipe?
Sim, era o Felipe.
Quanta ansiedade e quanta frustração. Felipe só deixou o recado dizendo que buscaria suas coisas no dia seguinte. Os dois estavam separados. Mas os dois se amavam.
Jogada no sofá, Manu se perguntara o que ela fez de errado durante esses dois anos juntos. Por mais que tentasse, ela não sabia responder seus pensamentos.

~*~

Mas a vida, de um dia para o outro, metaforicamente falando, deu um salto. Manu já estava em outro estágio de sua vida. 
Depois de alguns meses, o seu carro já estava inteiro. O mundo não pesava tanto quanto antes, no início. E parou de ouvir a secretária eletrônica.
Visitava sua mãe que morava em outra cidade. Não com tanta frequência, mas fazia de tudo para que a rotina não fosse a culpada.
Sentia-se feliz com o casamento. Sim, Manu se casou. Manu estava feliz.
Certo que ela tinha uma vida ainda muito corrida, e que não mudara o fato de ela, ainda, fechar a porta do escritório após às nove horas da noite.
As mudanças começaram quando ela decidiu tomar coragem e encarar tudo. Não foi fácil. Passou por bocados por amor. Mas parecia-se tão realista que isso a incomodava de vez em quando. E foi por amor. Sempre foi.
Certa noite, chegou de seu escritório, e a janta já estava pronta. Era engraçado, pois ela não se acostumara com tantos mimos. Manu adorava ser mimada.
O seu esposo estava no quarto, arrumando algumas peças de roupas. As roupas que, um dia, ele pensou em buscá-las num tal dia seguinte.
Manu ficou em pé, escorada no batente da porta de seu quarto. Observando e encarando com um olhar surpreso os movimentos de Felipe. Ele era tão cuidadoso com os afazeres, que não tinha nem percebido que a Manu estava ali, há dez minutos observando-o.
Minha linda!
Manu sorriu.
E dali em diante, percebeu que jamais esqueceria do dia seguinte, em que se declarou em seu apartamento, com os olhos cheios de lágrimas, a Felipe. Jamais esquecera do abraço que o Felipe lhe deu, após um fim que não tinha fim.
Felipe a amava. Muito. E sempre.
As coisas não são simples, mas se tornariam difíceis se a Manu deixasse sua grande razão de continuar a viver, partir.
Ela não deixou. E ele não partiu.
Já estavam ali desde sempre. E para sempre.
Para sorte de Manu. E para o acaso surpreendê-la.

~*~

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Alguém acordou o gigante.

Eu acordei no meio de um caos. Eu acordei e tinha gente lá fora gritando. Eu acordei e vi bombas de gás lacrimogêneo sendo arremessadas contra aos que pediam por um país com melhores condições. Eu acordei e vi gente ignorante arremessando latas de lixo contra os patrimônios públicos e contra as pessoas que recebiam ordens superiores. Ordens? Pra quê ordens?
Eu acordei e senti cheiro de vinagre. Eu acordei e os meus olhos estavam ardendo.
Eu acordei quando alguém dizia: “sem violência!”; quando dizia: “Não é só por conta de vinte ou trinta centavos!”.
Eu acordei dentro daquela multidão que estava na santa paz de Deus, pedindo paz, querendo dizer adeus à violência. Aquela mesma violência contra a Educação, contra a Saúde, contra a Mídia mal encarada e mal interpretada, contra ao salário patético que o professor recebe; contra tantos descasos.
Eu acordei quando despertaram o gigante. O gigante acordou. O gigante está acordando.
Eu acordei para protestar. Um protesto diferente. Um protesto pedindo ajuda, e não julgamentos. Ajuda-me! Ajude-nos!
Conseguiram despertar o gigante. Conseguiram dispersar os governantes. Conseguiram e estão conseguindo fazer uma manifestação bonita. Ninguém dormirá tão cedo.
Eu vi uma minoria sendo ridícula ao aderir um gesto violento no meio de uma manifestação bonita.
Eu quero permanecer acordada. Eu quero ver o gigante acordado para que possamos fazer a diferença. Um país diferente e melhor, queremos!
E que a manifestação pacífica possa continuar. Continue! O gigante não dormirá tão cedo. Nós o acordamos. Nós estamos acordados!


sábado, 6 de abril de 2013

Vida irônica

A vida está sendo, ultimamente, muito irônica comigo. Anda me testando de todo jeito.  Testa a minha personalidade e a minha maturidade. Tenta descobrir se ficarei em pé todo dia, se ficarei firme. E o interessante é que isso não é a primeira vez que acontece. Segura a sua onda, vida!
Me joga de lá pra cá. Joga os meus sentimentos e pensamentos no ar. Pensamentos e sentimentos que se tumultuam nesta minha mente.
A vida irônica está me dizendo aqui ao lado o que eu devo fazer. "Coragem, menina!"
A vida é tão irônica, mas tão irônica que esta mesma vida pensa que eu não posso negar nada a ninguém. E os sentimentos continuam ilhados. Intactos.
Parece que esta minha e doce amiga, vida irônica, tem a mania de me dizer o que é necessário. É necessário aconchegar os meus pensamentos. Queria ter a chance de aconchegar-me. Manter os meus pensamentos confusos e desejos quietos.
É melhor parar. Parar de pensar antes que a vida irônica grite aos quatro ventos as consequências que poderão vir.
Aprendi com as mesma vida irônica que eu não precisarei chegar a nenhuma conclusão. Nenhuma conclusão chegará em mim sem ao menos eu me decidir. Indecisão é uma batalha que tento vencer todo dia. Dia e noite, noite e dia.
É isso por agora. Não tente entender o que você não pode entender.
E se a vida irônica chegar até a você, abre a porta dos seus sentimentos à ela. Querendo sim ou não, ela entrará sem ao menos bater. É a mesma vida irônica que faz bater o seu coração dia e noite, noite e dia.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Nossas vidas.

Você não me conhecia quando me ofereceu abrigo pela primeira vez. Um flash, e cadê você agora?
Você não me conhecia quando sorriu para mim. Minutos depois, e você já tinha ido embora. Que vida engraçada... Sim, engraçada. Acho graça pelo motivo de não ficar brava contigo. Não fico brava contigo porque hoje você me conhece.
Conhece-me tão bem que me trouxe rosas, mesmo eu não gostando de receber flores. Quando poderei te ver de novo, meu anjo?
Anjo, meu querido anjo... Londres ficaria tão mais bonita se você estivesse aqui comigo.
Faz frio agora, muito frio! Nenhuma lareira, chá quente ou coberta me esquentaria quanto os teus braços.
Amanhã será um novo dia, e esta minha rotina seguirá firme. Seguir parece ser tão difícil. Mas, assim está sendo.
Nos tempos de chuva, lembro-me de quando você me abrigava. Hoje a nossa amizade é um refúgio. Mesmo que eu esteja tão distante, não quero que você imagine que foi um erro o nosso tempo. Aprendi com os deuses que o tempo é sagrado àqueles que sabem apreciar o seu próprio tempo.
Será que o tempo foi o nosso inimigo? Acho que não. Para te falar a verdade: não tenho certeza de nada. Nunca tive. E mesmo que as dúvidas me cerquem, eu ainda gosto de imaginar como o tempo foi o nosso sábio companheiro.
Já está tarde. Descobri que Londres é um lugar do silêncio. Preciso me silenciar também.
Anjo, esta carta estará sob o criado-mudo do teu lado esquerdo da nossa cama. Despeço-me desta forma para que a nossa vida continue da mesma forma que sempre foi: distante.
Será que você lerá esta carta? Será que você está lendo esta mera carta? Será que despedida combina com desculpa?
Aah, os pontos de interrogação... Prometo a ti que pararei de te questionar.
Espero te reencontrar só para ouvir de você que a minha caligrafia, contida nesta carta, é a mais bonita. Ou apenas receber o seu abraço como um símbolo de afeição. Porque eu não quero tratar nenhuma despedida como um ato de ruindade da minha parte. A parte boa foi o tempo que você me conhecia.
Cuida-se, anjo.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Ela s(e)m ele.

Eram mais de nove horas da noite: toca o sinal do intervalo no pátio da escola mais gelada do bairro. Como de costume, ela sempre se sentou no banco em frente a escadaria, só para ver o movimento. E ali permanecia por 15 minutos ou por uma vida inteira.
Muitas pessoas naquele pátio. Andavam; conversam; gargalhavam. Mas nada serviria para ela que ainda continuava sentada. Até que ele apareceu. Mas a ignorava como nunca, como de costume.
Aquilo duía dentro dela por quê ela nunca esperava por desprezo. Por ela ser desprezada, aprendeu a desprezar também. Não que seja uma doce vingança. É só uma doce retribuição.
As trocas de olhares eram espetáculos de circo. Ela e ele. Fingiam muito bem como ninguém que não se amavam intensamente.
Ela adoraria que aqueles 15 minutos de intervalo se dobrassem só para sentir a sensação de ser odiada e amada ao mesmo tempo por uma única pessoa. Mas não. Intactos com as palavras. Não conversavam por medo, receio ou orgulho próprio. Muito orgulho próprio.
E como sempre, ela adoraria que acontecesse o imprevisto: um esbarrão no bebedouro daquele patio lotado ou uma visita à amiga que estudava na mesma classe que ele. Mas nada!
Imprevistos meditados não aconteciam. Infelizmente.
Um turbilhão de sentimentos ela sentia ao vê-lo tão próximo, porém, não poderia tocá-lo.
Tocou o sinal. Fechou o tempo e ela ainda permanecia sentada naquele banco. Incrível!
A expetora do colégio a dirigiu até a sala de aula. Já ele... Aaah! Ele continuava disfarçando como ninguém. Os olhares descrevem sentimentos como ninguém.
Ela voltou para a sala de aula. Mas sentia que ela deveria ter feito algo para roubar a atenção daquele rapaz.
Desinquieta como sempre foi, saiu da sala de aula e foi andar no pátio. A imensidão daquele pátio dizia que ela ficaria sozinha e pensativa até chegar ao bebedouro. Em menos de dois minutos ela se sentia sozinha e pensativa. Como foi dito.
Andando como se contava os passos só para esperar o imprevisto meditado, assim aconteceu.
O tiro no escuro, por incrível que pareça, deu certo: ele descendo pelas escadas e ela voltando do bebedouro. Os dois pararam. Tentaram disfarçar, mas não conseguiram graças ao acaso. Olhares, infinitos olhares. E nenhuma palavra, e muito menos sorrisos.
Mas que vida mais louca. A falta de coragem de ambos pareciam muros de concretos, altíssimos. Fizeram de conta que não se conheciam pela milésima vez na semana só por conta de um término sem sentido.
Era a vida muito louca gritando para os quatro ventos que os dois se gostavam.
Antes que a expetora daquela escola fria a chamasse sua atenção, ela retornou para a sala de aula como se nada tivesse acontecido antes dele descer as escadas. O desprezo surgiu dali em diante. Talvez para ambos.
Ele? Ele eu não sei que rumo tomou naquele pátio daquela vida. Creio que ela não sabe também. Eles e suas vidas loucas.
E foi assim por tempo indeterminado. E será assim para sempre, a vida toda. Por quê ela e ele, se gostavam, mas para evitarem maiores decepções, fingiam que não se conheciam.
Talvez tudo isso sirva de lição para que qualquer um de vocês tenham coragem de viver e amar intensamente. Sem medo: vivam e amem!