Dessa vez eu acordei com a expectativa que os meus 29 anos de vida não fossem regados de saudades de você. Mas foi impossível, Ruan. É incontrolável.
E eu sei que a culpa não é sua. Não tenho o direito de te culpar, afinal, quem saiu daquela sala de estar pela última vez, fui eu. Eu: a culpada.
Tento buscar refúgios de um passado que nos pertenceu, buscando-me no fundo desta bebida alcoólica as respostas das minhas incertezas.
Não sei por onde você anda e muito menos quem é você realmente. Parece que você aprendeu algo comigo: sair sem se despedir.
E tento também, com a minha rotina insuportável, enfrentar e disfarçar o que eu escondo num olhar tenebroso.
Sinto-me incapaz de reagir com essa minha tristeza abafada, Ruan. As minhas súplicas nos fins de noite são ensurdecedoras. Engano-me como se fosse fácil, mas não é.
Crio personagens como se fossem salvações desta ser que teme em voltar a te procurar.
Mudo-me de cidade.
Mudo-me de emprego.
Mas não consigo deixar as bagagens que você deixou dentro de mim.
Parece um karma que me persegue.
Parece que você ainda está aqui. E não está.
Não choro, por que não sei chorar com essa mera facilidade que os sentimentos indesejáveis nos fazem transbordar, mas quando eu te tiro de um plural que já foi nosso, machuca.
Já busquei outros homens, outras transas, outros amores, outros cheiros.
Não sou uma mulher robótica. Permitia-me sentir prazer com as sintonias que me rondavam num tempo que substituía os pensamentos em noitadas duradoras.
Mas, você... Ah, você!
Não sei quando a minha vida voltará a ser uma fábula. Não espero por ti esta dádiva.
Mas, ainda espero que o dia de hoje não me dobre como um dia crucial.
E mesmo sem você.