Você não me conhecia quando sorriu para mim. Minutos
depois, e você já tinha ido embora. Que vida engraçada... Sim, engraçada. Acho
graça pelo motivo de não ficar brava contigo. Não fico brava contigo porque
hoje você me conhece.
Conhece-me tão bem que me trouxe rosas, mesmo eu não
gostando de receber flores. Quando poderei te ver de novo, meu anjo?
Anjo, meu querido anjo... Londres ficaria tão mais bonita
se você estivesse aqui comigo.
Faz frio agora, muito frio! Nenhuma lareira, chá quente
ou coberta me esquentaria quanto os teus braços.
Amanhã será um novo dia, e esta minha rotina seguirá
firme. Seguir parece ser tão difícil. Mas, assim está sendo.
Nos tempos de chuva, lembro-me de quando você me
abrigava. Hoje a nossa amizade é um refúgio. Mesmo que eu esteja tão distante,
não quero que você imagine que foi um erro o nosso tempo. Aprendi com os deuses
que o tempo é sagrado àqueles que sabem apreciar o seu próprio tempo.
Será que o tempo foi o nosso inimigo? Acho que não. Para
te falar a verdade: não tenho certeza de nada. Nunca tive. E mesmo que as
dúvidas me cerquem, eu ainda gosto de imaginar como o tempo foi o nosso sábio
companheiro.
Já está tarde. Descobri que Londres é um lugar do
silêncio. Preciso me silenciar também.
Anjo, esta carta estará sob o criado-mudo do teu lado
esquerdo da nossa cama. Despeço-me desta forma para que a nossa vida continue
da mesma forma que sempre foi: distante.
Será que você lerá esta carta? Será que você está lendo
esta mera carta? Será que despedida combina com desculpa?
Aah, os pontos de interrogação... Prometo a ti que
pararei de te questionar.
Espero te reencontrar só para ouvir de você que a minha
caligrafia, contida nesta carta, é a mais bonita. Ou apenas receber o seu
abraço como um símbolo de afeição. Porque eu não quero tratar nenhuma despedida
como um ato de ruindade da minha parte. A parte boa foi o tempo que você me
conhecia.
Cuida-se, anjo.