sexta-feira, 6 de junho de 2014

Uma dose de ilusão

A questão não era o por quê Jorge sentia tudo aquilo. Ele nem se importou quando a dose de conhaque acabara em seu copo. Aquele não era o motivo.
Jorge tinha obrigações como qualquer homem. Imaginava que Julia seria alguém que permitisse em amar qualquer coisa que pudesse ser insubstituível.
Julia foi embora antes do mês acabar. 
Mas, e daí?
Por incrível que pareça, Jorge não estava triste. Ele não precisava da tristeza.
Mas naquela segunda-feira, ele decidiu não ir trabalhar. Mal sabia onde deixara a chave da caminhonete.
Apenas ajudou a secar a garrafa de conhaque. Não era um refúgio. E sim, uma despedida.

"É claro que eu tinha planos dos quais você não sabia um terço. É claro que eu imagina o seu riso, a sua bronca e o seu jeito de estar e de ser. Mas você preferiu ir. Não te cobrei por isso, não te quis mais por isso. Eu sei que iremos nos reencontrar nesta vida, eu sei que irei conversar contigo. Não sou infantil a ponto de te ver passar em vão. Eu sei, Júlia, eu sei qual foi o seu motivo, mas por agora, dane-se."

Jorge queria ter a certeza que não iria sentir mais dor. Ele não sente mais dor. Ou finge que, como sempre, não sente a dor.
Ele voltou para a sala, pegou um livro e folheou como se aquele ato fosse a salvação.
Adormeceu.
E quando acordou, viu que tudo aquilo não era um sonho. 

Um comentário:

  1. A gente sempre espera acordar mais aliviado de cada sono, e sempre cogita a possibilidade de ter sido um sonho, e sempre acha que vai conseguir enganar a si mesmo por muito tempo...como sempre, adorei o texto! =)

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