domingo, 26 de fevereiro de 2012

Perfeição.

Vamos celebrar a estupidez humana, a estupidez de todas as nações, o meu país e sua corja de assassinos, covardes, estupradores e ladrões.Vamos celebrar a estupidez do povo, nossa polícia e televisão, vamos celebrar nosso governo e nosso Estado, que não é nação. Celebrar a juventude sem escola, as crianças mortas, celebrar nossa desunião. Vamos celebrar Eros e Thanatos Persephone e Hades. Vamos celebrar nossa tristeza, vamos celebrar nossa vaidade. Vamos comemorar como idiotas a cada fevereiro e feriado, todos os mortos nas estradas, os mortos por falta de hospitais. 
Vamos celebrar nossa justiça, a ganância e a difamação, vamos celebrar os preconceitos, o voto dos analfabetos. Comemorar a água podre, e todos os impostos, queimadas, mentiras e seqüestros. Nosso castelo de cartas marcadas, o trabalho escravo, nosso pequeno universo. Toda hipocrisia e toda afetação, todo roubo e toda a indiferença. Vamos celebrar epidemias: é a festa da torcida campeã. Vamos celebrar a fome, não ter a quem ouvir, não se ter a quem amar. Vamos alimentar o que é maldade, vamos machucar um coração. Vamos celebrar nossa bandeira, nosso passado de absurdos gloriosos. Tudo o que é gratuito e feio, tudo que é normal. Vamos cantar juntos o Hino Nacional (A lágrima é verdadeira).Vamos celebrar nossa saudade, e comemorar a nossa solidão. Vamos festejar a inveja, a intolerância e a incompreensão, vamos festejar a violência e esquecer a nossa gente que trabalhou honestamente a vida inteira, e agora não tem mais direito a nada. Vamos celebrar a aberração de toda a nossa falta de bom senso. Nosso descaso por educação. Vamos celebrar o horror de tudo isso - com festa, velório e caixão.
Está tudo morto e enterrado agora já que também podemos celebrar a estupidez de quem cantou esta canção. Venha, meu coração está com pressa quando a esperança está dispersa só a verdade me liberta. Chega de maldade e ilusão. Venha, o amor tem sempre a porta aberta, e vem chegando a primavera. Nosso futuro recomeça: venha, que o que vem é perfeição. 
(Renato Russo)

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